quinta-feira, 31 de agosto de 2017

CPEJA [ Centros Públicos de Educação de Jovens e Adultos]









Pra fechar com chave de ouro depois do evento "Bem Star" seguimos para o CIEP CDA [ Carlos Drummond de Andrade], já noite, onde nos aguardavam uma turma mais que especial do CPEJA [ Centros Públicos de Educação de Jovens e Adultos]. Experiência incrível e muito agradável.

Evento - Mês dos Advogados 2017






A convite de, Adriana Pina, participei do evento "Bem Star", no Jardim do Méier dia 17 Agosto. O bacana de tudo isso é conhecer pessoas que fazem a diferença neste mundo pobre de cultura de boa qualidade.

CPEJA - Contemplados com meu livro







Ainda com essa turma maravilhosa. Aqui os contemplados que ganharam no sorteio o livro "Retorno ao Passado" e "Família Ziguinibre." Na verdade eu é que me senti um ganhador por estar no meio de pessoas tão agradáveis como as que estavam presentes neste dia. Certamente voltarei.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

SORTEIO DO LIVRO - RETORNO AO PASSADO - FEVEREIRO - 2016



Este sorteio é somente para quem curtiu minha página no Facebook ou que venha a curtir. Deixe seu contato de e-mail aqui embaixo nos comentários e já estará concorrendo. Desta vez serão três ganhadores. Lembrando que quem não curtiu a página e se inscrever deixando contato será desclassificado. O resultado sairá dia 05 Março. Desde já agradeço a todos que participarem. Boa sorte.








quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Escritor do Rio de Janeiro lança livro com história ambientada em Patrocínio


Patrocínio mais uma vez é destaque na cultura. Depois de vários livros de autores patrocinense radicados na cidade lançados nos últimos anos, do filme “Vazio Coração” de Alberto Araújo, lançado em circuito nacional de cinema, de Lucas Lucco se destacar no cenário nacional como o maior cantor sertanejo da atualidade, entre outras ações culturais, surge Guilherme Jaber, com o livro “Retorno ao Passado”, cujo lançamento acontece no dia 11 de outubro, inicialmente previsto para o auditório do Colégio N.S. do Patrocínio.
O escritor Guilherme Jaber, fala a TV Hoje sobre seu livro "Retorno ao Passado" com história ambientada na cidade de Patrocínio - MG. As datas e os locais foram:

Colégio Berlaar - 13 Outubro 2014.
Biblioteca Pública Municipal - 06 Novembro 2014.
Unicerp - 12,13 Novembro 2014.

Luiz Antônio Costa da Redação da Rede Hoje.










sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

RETORNO AO PASSADO - UM SONHO REALIZADO

Capas feitas para meu livro desde sua concepção. A última será a versão 2015.



Não é fácil ser um escritor no anonimato, longe dos holofotes. A cada dia quem se intitula autor independente, tem que fazer malabarismos para driblar as dificuldades do dia a dia. Em um país onde se lê pouco se torna quase impossível abrir um espaço e dizer: “Olá estou aqui”. Fazer com que seja notado pela obra escrita é complicado e sem um referencial então...

Eu tenho explorado a internet que passou a ser uma ferramenta fundamental para que meu produto viesse a ser visto. Vários e vários livros doados a pessoas que pudessem ler a apreciar o valor literário que meu livro contém. Mas poucos foram aqueles que retornaram com suas avaliações. Não porque o livro fosse ruim, mas a alegação era sempre a de que se recebiam muitos livros e que o tempo era o fator primordial. Mas não me prendi a isso, pois conhecedor do que escrevi e julguei por eu ter ótima qualidade literária, segui meu caminho.

Escrevi “Retorno ao Passado” quando por três anos morei em Patrocínio – MG - em função de coisas pessoais relacionadas a inventário. Neste período tive tempo para compor cada personagem, cada um a seu jeito. Por isso cada personagem do meu livro tem uma particularidade única. Diálogos com linguística local, o que enriquece ainda mais e traz vida a cada um deles.

Quando escrevi este livro, escrevi para Patrocínio, para cada cidadão. Em 1993 voltei para o Rio de Janeiro, mas meu livro ainda estava longe de ser concluído e diante de varias dificuldades o engavetei. Mas o interessante é que não tive sossego enquanto não abri aquela gaveta e retirei-o. Parecia que cada personagem cobrava de mim um final, fosse ele escrito de que maneira que fosse, mas que tivesse um final.

1999 foi o ano dessa façanha. Então agora o que eu teria de fazer era encontrar alguém que pudesse limpar e corrigir meu português dentro da minha escrita. Queria eu fazer isso logo, pois a cada vez que eu abria meu livro eu mexia num detalhe aqui, noutro ali. Assim foi passando o tempo e quando surgia uma dificuldade eu o engavetava. Obviamente que eu ia escrevendo coisas paralelas. Mas “Retorno ao Passado” foi um livro que me consumiu muito, senti cada personagem, cada situação; era como se realmente eles tivessem vida própria e estivessem reivindicando ela por definitivo, enfim querendo cada um sua liberdade.

Em 2010 de fato eles ganharam vida e suas liberdades em definitivo. Agora eles tinham um começo meio e fim... Bom, fim não sabe se terão, mas fato é que parei de ficar mudando a trama e com isso fiquei em paz. Mas a concretização de tudo veio mesmo em 2013 para 2014 e de lá para cá “Retorno ao Passado” tem sido um livro muito bem aceito. Ainda não tenho tanto eu quanto o livro o reconhecimento que desejamos, mas tudo ao seu tempo.

Eu sempre digo que eu criei meus personagens e lhes dei vida, mas vida de verdade quem dá é você caro leitor quando abre as páginas e vai desenhando cada passo deles em sua mente. Você sim é quem dá a vida.








AS DIFICULDADES DE SER AUTOR INDEPENDENTE

Umas das façanhas de ser escritor independente é o desafio de se chegar ao topo. Imagine que você vá fazer uma trilha no topo de um morro, serra ou montanha, sei lá a critério de cada um. Mas para que se chegue até o local da trilha, vamos supor que seja um caminho plano, com asfalto ou não, mas que de certa forma não te force um caminhar mais pesado.

A vida de um escritor independente é algo parecido com essa ilustração. Por mais difícil que possa parecer escrever não é tão complicado para quem já escreve. Fazer a trilha, superar os obstáculos, as adversidades, os contratempos, o cansaço, tudo isso é mais difícil.

Chegar até a trilha pode ser mais fácil do que começar a trilha. Mas pergunte a quem faz trilha qual é a parte mais interessante de tudo isso? Obviamente ele ira responder que fazer a trilha é mais prazeroso do que o caminhar até ela.

Escrever um livro pode ser difícil. Leva-se certo tempo para que tudo fique pronto para se dizer: “Eis um livro”. Mas acredite é ai que começa a trilha para quem é autor independente. E as trilhas são cada dia uma pior que a outra. Mas pergunte a quem é autor independente se ele pensa em desistir? Certamente que não. Alguns podem até engavetar seu sonho, mas jamais trancaram a gaveta.

Quando escrevi “Retorno ao Passado” perdi as contas de quantas vezes engavetei esse sonho, de torná-lo realidade. No inicio contei com a ajuda de pessoas queridas que se importavam com meu ideal, em particular meu irmão Henrique, que por várias vezes foi um grande incentivador e por varias vezes não permitiu que eu desistisse. Varias vezes colaborou para que meu projeto avançasse.

Não se faz cultura sem apoio. Sempre digo isso. Quando um escritor começa de fato trilhar o caminho, é ai que os problemas surgirão, pois assim como a trilha da mata tem seus obstáculos, a trilha da vida seja ela em que área for com certeza também terá suas dificuldades, o que é supernormal. Isso apenas demonstrará se cada um estará apto a receber seu troféu de vitória ou não. Portanto seja onde for encare tudo com naturalidade e de cabeça erguida, com um belo sorriso e com toda sua disposição.

Como escritor independente eu tenho minhas dificuldades, minhas deficiências, mas a cada dia certamente aprendo a lidar com cada uma delas porque sei para onde vai a trilha e para onde ela me levará.




SER ESCRITOR INDEPENDENTE

Ser escritor hoje em dia é muito difícil. Não posso falar a respeito do que acontece fora do Brasil porque realmente não sei como e de que forma tudo acontece, mas aqui eu entendo perfeitamente das dificuldades. Ser escritor independente fica ainda mais difícil. Muitos dizem ser compensador e até porque o retorno financeiro acaba não sendo dividido; mas se olharmos para outro lado a coisa não é bem assim.

Me chamo Guilherme Jaber, escritor desde 1999 mas escrevo desde pequeno. Tenho 26 livros sendo que muitos deles ainda estão por finalizar. Confesso estar sem motivação para tal missão. Recentemente como escritor independente, eu lancei um livro intitulado “Retorno ao Passado” e que me tem trago bons resultados.

O engraçado é que quem está de fora e não acompanha o difícil trabalho de ser escritor independente, acham que nadamos em dinheiro, por acreditarem que o lucro vem em 100%, ledo engano. Ser independente não me exime de ter responsabilidades e gastos, muitos gastos. Se eu vendo bem certamente é porque por trás, nos bastidores, ralei e ainda ralo muito para que o resultado venha de certa forma positivo, mas nem sempre, mesmo com muita ralação o resultado vem como realmente desejo.

Quando escrevi Retorno ao Passado, escrevi para o povo de Patrocínio, minha terra natal. Como um bom mineiro e morando no Rio de Janeiro, não podia jamais negar minhas origens. Desde os meus doze anos moro na capital carioca, mas sempre com um pesinho em Minas.

Papai faleceu em 1983 e em função disso em 1987 tive que abandonar tudo e cuidar de uma papelada relacionada a inventário. Mamãe bem que tentou, mas não conseguiu. Tive que ser emancipado para tal compromisso. Ficava indo e vindo. Mas em 1990 eu decidi ficar por lá para resolver tudo, pois estava muito confusa a documentação.

Foi nesse período que em minha cabeça começou a brotar meus personagens, de forma que então ainda em rascunhos comecei a escrever. Meu ponto chave era uma história de um colega de sala de aula que estudou comigo na escola Mariana Tavares de nome “Moisés Ferreira”, mas que no meu livro ganhou o nome de “Moisés Borges de Aquino”. Em nossa época, tínhamos sonhos de mudanças, pois vivíamos em muita pobreza. Enfim, meu fio condutor partiu daí.

Posso dizer que em parâmetros gerais, escrever foi mais fácil do que a missão de vender. Essa por incrível que possa parecer é a parte mais difícil. Quando se fala em escritor independente, varias pessoas tem uma visão distorcida, da real situação que nós rodeia. Não é fácil ser um autor literário no Brasil. Sé para muitas editoras a coisa já é complicada, imagina para quem ainda não tem um nome reconhecido ou sua obra. A missão de quem é independente é provar ao leitor que sua obra sim merece uma apreciação, o fato de ser desconhecido não desmerece a obra em si.

Muitos por aí escrevem porcaria e acham que escreveram um best-seller. Mas muitos outros certamente escrevem boas histórias e nem sequer tem seu material justamente avaliado. Eu posso me dar ao luxo de dizer que meu livro “Retorno ao Passado” é um bom livro. Com mais de 800 exemplares vendidos em todo Brasil, sendo um autor independente e ainda pouco conhecido, posso dizer que sou vitorioso.

O caminho não é fácil, mas não é impossível. O negócio é arregaçar as mangas e seguir em frente, sem olhar a quem, ou dar ouvidos aqueles que deturpam uma obra que tenha qualidade.

Eu trilho esse caminho, pois acredito que um dia meus trabalhos literários serão reconhecidos, e que de certa forma vieram a acrescentar nessa biblioteca literária da vida onde cada um puxa o conteúdo que deseja para tornar seu dia, seu conhecimento, ou enriquecimento cultural um pouco melhor que o dia de ontem.




sábado, 17 de janeiro de 2015

DIREITOS AUTORAIS




TODOS OS DIREITOS AUTORAIS DESSA OBRA "RETORNO AO PASSADO" ESTÃO GARANTIDOS DE ACORDO COM O DECRETO 9.610. FICA PROIBIDO QUALQUER TIPO DE REPRODUÇÃO DA MESMA SEM AUTORIZAÇÃO.


sábado, 13 de setembro de 2014

RETORNO AO PASSADO - BIBLIOTECA MUNICIPAL DE PATROCÍNIO - MG





Dia 06/11/2014, ás 19h30, na “SEMANA NACIONAL DO LIVRO” e aniversário dos 75 ANOS da BIBLIOTECA MUNICIPAL DE PATROCÍNIO, acontecerá a : “NOITE DE AUTÓGRAFO” com o escritor patrocinense GUILHERME JABER, lançando sua obra: “RETORNO AO PASSADO”. História toda ambientada na cidade.


RETORNO AO PASSADO - PROJETO AUDIOVISUAL



Ensaio do Projeto Áudio Visual, Em breve disponível para pessoas especiais.



quinta-feira, 26 de julho de 2012

UMA PALAVRA


Feliz aquele que tem o privilégio de conhecer a obra de um autor que foi buscar em sua raiz a essência da vida, expressa de maneira simples e ao mesmo tempo tão própria, onde leva cada leitor a um encontro com uma realidade presente nas suas mais doces lembranças. Eu, pela segunda vez, tenho a honra de poder falar sobre esse autor, dono de uma sensibilidade apurada, mas que infelizmente poucos conhecem. Amigo de longa data e um grande companheiro de trabalho. Tive oportunidades raras de atuar com ele. Certamente não é fácil, separar o profissional do amigo, mas em se tratando de Guilherme Jaber, tudo parece ficar transparente, porque assim ele o é. Cada linha por ele aqui tracejada, nos conduz a uma emoção inexplicável. E é com prazer e orgulho que digo que Retorno ao Passado é, sem dúvida, um bom livro de cabeceira. A narrativa segue mantendo as características de uma linguagem com fidelidade e riqueza de detalhes únicos do autor. Enfim, a história é o encontro de um passado não tão distante quanto se imaginava e um presente que se pensava próximo e certo. O contraste do ritmo das grandes cidades e a calmaria típica interiorana. É onde a beleza e a poesia ganham formas e nomes. E onde nós, simples admiradores da vida, descobrimos um mundo que ainda não conhecíamos.

Sucesso sempre amigo.

Neia Nascimento
Atriz.

RETORNO AO PASSADO - PRIMEIRO CAPÍTULO DISPONÍVEL AQUI.



Existem coisas que marcam de uma forma tão profunda a vida da gente que se torna difícil apagar da memória a lembrança dos fatos reais, vividos e sentidos na pele de quem as viveu. Lembranças de pessoas tão fortes e, ao mesmo tempo, tão sensíveis, que fazem com que perpetuemos para a eternidade suas existências. Como promessa, decidi escrever a história, os fatos, pois só assim, eternizo os momentos que marcaram (e muito) minha vida e a vida dessas pessoas.

Minha esposa Juliana e eu tivemos que fazer uma viagem às pressas para Minas Gerais. A viagem não foi planejada, mas depois de uma ligação de mamãe tudo mudou. Ela ligou dizendo que um amigo meu, de infância, teria sofrido um acidente. Confesso que naquele momento, ao telefone, fiquei fora de mim por uns instantes. Meu corpo gelou, eu me senti tonto, meus olhos pareciam escurecer. Na sala, tive que sentar na velha poltrona que estava ao lado do telefone, para me recompor. Depois de um tempo, tudo voltou ao normal. Juliana, por sua vez, estava preocupada comigo, aos poucos a acalmei, afinal, foi só um choque. Estava morando no Rio de Janeiro há uns quinze anos e nesse tempo, voltei para Minas Gerais apenas uma vez. Por insistência de meu pai, acabei me formando na área de engenharia da construção civil. Na época, ele queria muito que eu fosse engenheiro, pela estabilidade que a profissão oferecia. Não posso reclamar. Contudo, acabei me envolvendo em vários projetos e, antes disso, havia os estudos que eram muito puxados. Com isso, minha ausência foi ficando cada vez maior. Quando me dei conta, haviam se passado quinze anos... confesso que mamãe também foi culpada por essa ausência tão grande. Minha casa ficou agitada nesse dia. Estava eu, arrumando as malas... era um tal de cadê isso, cadê aquilo, a ansiedade tomava conta de mim, estava louco para cair na estrada, poder chegar logo em Minas Gerais e saber, de verdade, o que houve, por que mamãe teve a bondade de me ligar para dar a notícia sobre esse tal acidente, mas não quis entrar em detalhes, dizer-me, pelo menos, como estava o meu amigo. No fundo, no fundo, minha mãe não passava de uma pessoa mesquinha. Olha, sei porquê digo isso, ela foi muito ruim na minha infância. Talvez, agora esteja se redimindo de todos os erros que cometeu... dos quais não foram poucos!

— Ei! Calma! Nada vai sair de lá. Vai dar tudo certo! — dizia Juliana, olhando em meus olhos.
— Tem razão... vamos terminar logo com essas bagagens, colocar tudo no carro e pé na estrada.
— Você prestou atenção no que eu acabei de dizer?
— Sim, querida! Vamos, não perca tempo. — Juliana é uma pessoa muito positiva e, de certa forma, tentava me acalmar. Talvez quisesse desviar meus pensamentos para que eu não me agitasse tanto naquele momento. — Desculpe amor, é que... sei lá, depois de tanto tempo, é como se eu já não tivesse tanto tempo assim. Entende?
— Eu não sei por que essa ansiedade toda.
— Você colocou meu pijama? Lá costuma fazer muito frio nas madrugadas...
— Já amor. Já coloquei no mochilão. Tudo bem que a sua mãe estava nervosa ao telefone, mas ela disse que está tudo bem por lá! Bom, pelo menos foi o que me disse. A não ser que esteja para mim. Está?
— Claro que não! Jamais faria isso. — Naquele momento percebi que minha mãe não falou para Juliana o que de fato havia acontecido e eu,no meio de todo aquele fuzuê, achei que ela soubesse de tudo, mas que nada! Custava minha mãe dizer à ela o que, realmente, havia acontecido? Mas não, em vez de ajudar, complicava. Minha mãe sempre foi assim mesmo, fazer o quê?! Então, tive que explicar para Juliana o que, realmente, aconteceu. — Não é pelos meus pais que estou fazendo essa viagem.
Espantada, perguntou:
— Bom se não é pelos seus pais, então, tem alguma coisa que eu não deva saber?
— Não! Não é isso! Estou indo visitar um amigo.
Juliana, furiosa disse:
— O que está acontecendo, Guilber? Primeiro, você cancela uma reunião muito importante, da qual poderia até sair com um cargo mais elevado na empresa, possibilitando um conforto melhor para nós e nossos filhos que virão! E você cancela tudo assim, de uma hora, para outra, só para visitar um amigo em Minas? Confesso que não estou entendendo nada. Ainda ontem você estava decidido a brigar por essa vaga e agora larga tudo?

Juliana ficou uma fera! Coitada, minha mãe conversou com ela por um bom tempo ao telefone, mas não falou nada sobre o meu amigo. Em parte, Juliana estava certa. Esperei muito tempo por essa oportunidade na empresa; a reunião estabeleceria quem seria o chefe de um novo projeto e eu tinha uma grande possibilidade de ser essa pessoa. Mas existem coisas que não se explicam. Naquele momento, eu sabia que a opção certa era viajar, afinal depois de quinze anos de ausência, para mim, um dia a mais ou um dia a menos fazia grande diferença. Fiz uma escolha e não queria voltar atrás. Houve um silêncio no quarto, depois disso, fiquei calado esperando tudo se acalmar. Eu é que sei como a Juliana é nervosa! Baixei a cabeça e fiquei pensativo por um breve momento, até que decidi explicar:

— Ele está doente, sofreu um acidente e...
Juliana perguntou com espanto:
— Como? Espere aí! Não fiquei sabendo dessa parte! — recompondo-se, respondeu — Agora entendo, porque sua mãe disse que só falaria com você. Sua mãe não vale nada, sabia?
— Você está certa.
Estava eu, sentando, na beira da cama, quando Juliana subiu e me abraçou pelas costas. Minha mãe de fato não jogava honestamente com as pessoas, ela se achava superior a qualquer um, inclusive a mim. — Desculpa amor, mas sua mãe, não sei, tem horas que... deixa pra lá. Quem é ele? O Paulo, o Marcos? Afinal, conheci todos os seus amigos na última vez que fomos à Minas Gerais.
— A única vez, quer dizer, né? Não. Você não o conheceu. Aqueles que você conheceu, nunca foram meus amigos de verdade, apenas colegas do tempo de escola, nada mais que isso!
— Como ele se chama?
— Moisés Borges de Aquino. Desde que o conheci, este nome foi pronunciado uma única vez, quando me contou uma história de como entrou para o colégio onde estudávamos, — com orgulho — todos na época conheciam e o chamavam de “Lorinho”. Ele sim sabia como, realmente, valorizar uma amizade, mamãe nunca foi com a cara dele, aliás nunca gostou dele.
— Ué! Por quê?
— Era pobre, muito pobre, mas tinha uma coisa dentro dele que o fazia ser o melhor e que o diferenciava dos demais.
— Se sua mãe nunca gostou dele, por que ligou então?
— É por isso que estou ansioso, depois que eu saí de lá, nunca mais o vi, tenho que ir vê-lo, saber como está, enfim...

Após horas arrumando a bagagem, levei-as para o carro. Depois de um tempo, tudo estava pronto. Dei uma olhada por toda a casa só para ter a certeza de que tudo estava fechado, pois não sabia quando iria voltar. Nessas horas, a gente sempre acaba recorrendo aos vizinhos e comigo não podia ser diferente. Pedi ao Seu Francisco, muito meu amigo e sua esposa, Dona Zélia, para tomarem conta da casa, enquanto estivéssemos fora. Dei as chaves da casa para eles e fiz umas recomendações. Juliana já estava no carro, uma caminhonete Blazer fechada, sem carroceria, na cor preta.




— Seu Francisco, aqui está as chaves da casa. Deixei umas coisas na geladeira que eu gostaria que o senhor pegasse, sabe como é, pode estragar! Eu não sei mesmo quando volto.
— Dirijam com cuidado, meu filho, essas estradas são tão perigosas e você sabe, todo cuidado é pouco!
— Pode deixar, dona Zélia, tomarei cuidado. Seu Francisco, o freezer e a geladeira estão ligados. Depois que o senhor pegar as coisas perecíveis, pode desligá-los.
— Fica tranquilo, meu filho. Cuidaremos de tudo pra vocês!
— Obrigado. Obrigado mesmo. Até mais! Tchau, Dona Zélia. Bom, deixa-me ir que a estrada me espera!

Caminhei até ao carro e mais uma vez verifiquei detalhadamente se estava tudo ok. Liguei o motor, soltei o freio de mão e deixei que deslizasse até a rua. Lembro-me do seu Francisco e da dona Zélia gritando.

— “Dê lembranças a seus pais e vão com cuidado!”

Manobrei o carro e segui nosso caminho rumo à Minas Gerais. Era o verão mais quente de todos os tempos. Aproveitei para passar em um posto de gasolina, trocar o óleo, renovar a água, calibrar os pneus. Comprei bastante água e seguimos em nossa viagem rumo a Minas.

— Não sei por que você não me falou desse seu amigo antes, mas agora eu quero saber de tudo!
— É, vejo que o papo vai ser longo.
— Vai a algum lugar nas últimas horas, onde não estarei ao seu lado?
Espero que não. — Risos.



Permaneci em silêncio por um tempo, tentando lembrar os detalhes. Juliana não falava nada, esperava o momento certo, sabia que eu ia contar na minha hora. Já estávamos descendo a Serra de Petrópolis sentido Juiz de Fora, quando realmente comecei a narrar a história.



— Tudo começou em 1980, quando meu pai trabalhava para uma construtora. Acho que o nome era Constru-plata. Não me recordo direito, eu tinha quatorze anos. Ele chegou em casa com a notícia de que iríamos nos mudar. Confesso que não me assustei, afinal isso era constante. Papai disse que poderíamos ficar para não prejudicar meus estudos, mas mamãe jamais admitia ficar longe dele. Era mês de abril e, com isso, percebi que teria novas dificuldades na escola, mas aceitava tudo numa boa. Três dias depois e já estava de partida, eu nem me preocupava em fazer amigos, porque sabia que no final, seria sempre assim, mudanças de última hora pegando a gente sempre de surpresa! Daquela vez, a viagem foi longa! Seis horas de estrada até à cidade de Patrocínio que, por sinal, você já conhece. Na época, era uma cidade pequena, bom, pelo menos para quem estava saindo de uma, como Belo Horizonte, era uma diferença enorme. A cidade era bem tranquila. Chegamos num sábado de sol forte, assim como o de hoje. Papai havia escolhi do uma casa no centro da cidade, bem perto do comércio, dos bancos, tudo para facilitar a vida de mamãe. Lembro, perfeitamente, quando o caminhão parou em frente, pois nada naquela casa mudou: as grades, a varanda e as quatro colunas, tudo está do jeito como estava no dia em que lá entramos.



Um dos ajudantes deu a volta e abriu a parte de trás do baú do caminhão, um subiu e o outro ficou no chão. Mamãe parou seu carro, uma Brasília, logo atrás do caminhão e já saiu dando bronca nos rapazes deixando-os constrangidos.



— Parem! Parem tudo! Ainda não mandei descer nada! Vocês me ouviram mandar descer alguma coisa? Não, né! Bando de imprestáveis. Que coisa! Onde foi que vocês aprenderam a fazer mudança?

Os dois se olharam assustados, mas permaneceram calados. Papai não estava presente, tinha ido direto para a barragem, que eles estavam construindo em um lugar chamado Nova Ponte. Mamãe abriu a casa, verificou cômodo por cômodo, depois voltou até o caminhão e disse com ar de autoridade.

— Muito bem, agora podem descer as minhas coisas e com muito cuidado, sei como vocês são imprestáveis! E não adianta olharem com essas caras de cão passando fome, sei muito bem o tipo de gentinha que são!

Quando foi necessário tirar do caminhão a geladeira, apareceu um rapaz para ajudar, depois outro e mais outro. Isso irritava minha mãe, mas aí ela teve que ficar na dela, afinal, não conhecia aquelas pessoas, era nova na cidade, com certeza acabaria criando confusão. Depois que a mudança foi tirada do caminhão, o motorista foi até a padaria que ficava no mesmo quarteirão, um pouco à frente de nossa casa, não era de esquina como as tradicionais que a gente tem aqui no Rio. Lembro com muita clareza de detalhes: Padaria Globo. Fazia-se ali um café e um pão de queijo que, olha, podia sentir o cheiro à duas ou três quadras. Em minha opinião, lá é que estava o melhor pão da cidade. Eu que não era bobo, fui junto e deixei minha mãe sozinha. Tomamos refrigerantes e comemos pão de queijo, foi quando chegou meu pai.



— Ô Jorge, desculpa não estar aqui pra ajudar vocês, mas me enrolei com toda essa confusão de mudança e tive que ir direto pra barragem levar uns projetos e...
— Tranquilo, seu Júlio, na hora apareceu uns caras para ajudar, mas num esquenta com isso não, faz um lanche aqui com a gente, hoje tudo é festa pra mim, vou entrar de férias depois de amanhã.
— Poxa! Que bom!
— Quero visitar minha família lá no Norte, levar umas coisas que minha mãe sempre pediu e nunca pude levar!
— Caramba, Jorge! Nunca me falou sobre isso! E, o que é?
— Bobagem. É só uma televisão. Ela gosta de ver as novelas. O sonho dela é conhecer o Tarciso Meira.
— Bom, quanto a esse sonho, eu não posso realizar, mas o outro faço questão.
Mordendo o pão de queijo, disse:
— Não, seu Júlio, imagina, não precisa incomodar com isso e...
— Deixa de bobagem, não é incomodo nenhum. Desde que o conheço, é você quem faz minhas mudanças e nunca lhe dei nada, e olha que pra aturar minha mulher não é para qualquer um não, tem que ter muita paciência!
— O senhor sabe que eu já me acostumei!
— Vai de quê?
— Vou pegar uma carona com o Rodrigão. Ele vai até Tucurui, no Pará, de lá para Altamira, é um pulo.
— Passe aqui quando for e, caso eu não esteja, fale com meu filho ou minha mulher. Vou deixar tudo no jeito pra você.
— Já que insiste, vou aceitar. A veia vai ficar toda prosa.
— Com o dinheiro que você ia gastar, faz alguma outra coisa que ela esteja precisando.


Por um instante, papai olhou à sua volta e deu uma boa respirada, como se estivesse pensando em sei lá o quê. Lembro que meu pai tirou do bolso um dinheiro e deu um tanto para cada um, não me lembro de valores e sim, da felicidade estampada no rosto de cada um ali presente. Confesso que na hora até reclamei minha parte, afinal, também tinha feito alguma coisa, mas meu pai apenas passou a mão na minha cabeça e me chamou para irmos para casa. Papai ainda discutiu com o seu Jorge que queria pagar a conta, pelo menos a conta, mas ele não deixou. Foi a última vez que vi aquelas pessoas. Jorge entrou no caminhão com seus ajudantes, deu dois toques de buzina e saíram. Papai me abraçou. Deve ter pensado: — “Mais uma mudança em nossas vidas.” — Tentava imaginar o que ele pensava, mas papai era imprevisível, era um tipo que exigia muito de mim nos estudos, fazia de tudo pra me agradar, porém eu tinha a obrigação de ir bem na escola. Sua política era: — “Eu pago seus estudos e você passa de ano!” — O resto, para ele não interessava. Esse era seu jeito de pensar. Então, quando aconteciam essas mudanças repentinas, de uma hora para outra, eu sempre tentava imaginar o que se passava naquela cabeça.

— Venha, filho. Vamos dar jeito de organizar aquela bagunça, antes que sua mãe comece a falar.

Mal acabamos de entrar na nova casa e mamãe já veio com os seus sermões.

— Onde você foi Guilber? Eu já estava aqui, preocupada. — Eu fui com o pessoal até à padaria. — Hum! Com o Jorge? Grande coisa...

Mamãe tinha enchido a boca para alongar o assunto. Com ela era assim, qualquer coisa seria motivo para discutir, se fosse preciso, o dia inteiro, mas naquele momento não tinha dado muita importância ao que ela falava.

— Papai, o que vamos desembalar primeiro?
— Vamos organizar as coisas da cozinha, — cochichando — senão, ninguém come nesta casa hoje, certo? — e riu.
Respondi baixinho.
— Verdade papai. — e ri também.
— Enquanto você desembala as caixas pequenas, vou ver se consigo arranjar alguém que possa me ajudar com o pesado. — olhou para a mamãe — O pessoal não quis ficar, sabe como é sua mãe, fala demais.
— Eu? Tá bom. Eles é que não fazem nada direito! Um bando de imprestáveis, que nem pra fazer uma mudança servem.




Claro que eles não partiram por causa disso, papai gostava de alfinetar mamãe também. Enquanto fazia meu serviço, ele foi buscar ajuda. Um tempo depois, tentava arrastar uma caixa que estava pesada demais, foi quando entrou papai com um moço casa adentro.

— Ô filhão! Cuidado aí, isso é muito pesado para você. Deixa que eu faço isso. — papai deu um enorme berro chamando mamãe e ela saiu de um dos cômodos, furiosa. — CARMEEMM! Ô CARMEEMM!
— O que é homem de Deus, precisa gritar desse jeito? Mal chegamos na cidade e você já quer me matar de vergonha? Daqui a pouco os vizinhos vão achar que sou uma mulher qualquer, desclassificada!
— Trouxe um moço pra ajudar com as coisas pesadas — pediu ao rapaz — Venha até aqui, por favor. Qual é o seu nome?
— Manoel.
— Bom, Manoel, me ajude a colocar essa geladeira na cozinha, por favor!


As coisas foram se ajeitando. No final, só ficou mesmo a estante e o guarda-roupa. Mamãe tinha uma empregada que se chamava Paula e naquela agitação toda eu nem percebi sua ausência. À noite, assistindo à TV, alguém mencionou o nome Paula, numa certa reportagem, foi aí que eu dei falta dela.

— Paula não veio! Não vai mais trabalhar com a gente?
— Claro que vai, filho. Só aproveitou para visitar os pais.
— Ah, bom! Quem vai arrumar a bagunça até ela chegar?
— Ninguém. Vou esperar por ela.

Mamãe era um tipo de pessoa que não nasceu para o trabalho, seu negócio era mandar, mandar e mandar, dar ordens, isso ela sabia fazer e muito bem! Havia desencaixotado, somente, o básico do dia-a-dia, ia mesmo esperar pela Paula que, no mínimo, não tinha dimensão da bagunça que a esperava.

— Como era essa Paula? — Quis saber Juliana.
— Paula? Paula era uma figura. Era uma pessoa muito bonita e, acredito, que ainda seja. Humilde, de família simples. Tinha dezesseis anos quando nos mudamos para Patrocínio, em 1980. Entrou pra nossa família com quatorze anos. Loira, de olhos verdes, seus pais eram do Sul, descendentes de italianos. Quando mamãe a conheceu, seus pais tinham se mudado do Sul há um mês e estavam passando por dificuldades financeiras. Mamãe havia chegado há apenas uma semana. Presidente Olegário era o nome da cidade no estado de Minas e a antiga empregada não se aventurou a acompanhar meus pais. Mamãe estava desolada, sem saber o que fazer. Eu estava com doze anos. Era uma tarde, em que o tempo garoava, uma chuva bem fininha em 1978. Tinha acabado de me deitar no sofá, quando a campainha tocou. Levei o maior susto, pois não conhecia ninguém ali, mas num impulso, levantei e abri a porta. Era ela. Confesso que não resisti e a olhei de cima a baixo. Eu nunca tinha visto uma garota tão linda como ela, até aquele momento... tinha uma voz tão suave, tão meiga...




Presidente Olegário era o nome da cidade no estado de Minas e a antiga empregada não se aventurou a acompanhar meus pais. Mamãe estava desolada, sem saber o que fazer. Eu estava com doze anos. Era uma tarde em que o tempo garoava, uma chuva bem fininha em 1978. Tinha acabado de me deitar no sofá quando a campainha tocou. Levei o maior susto, pois não conhecia ninguém ali, mas num impulso levantei e abri a porta. Era ela. Confesso que não resisti e a olhei de cima em baixo. Eu nunca tinha visto uma garota tão linda como ela até aquele momento... Tinha uma voz tão suave, tão meiga...

— Oi, sua mãe está?
Da sala eu gritei.
— MAMÃE! MAMÃE! Ela respondeu da cozinha, irritada.
— O que é menino?
— Tem uma moça chamando! — curioso, fiz uma pergunta.
— Quem é você? — ela só olhou e sorriu, como se ignorasse o que havia lhe perguntado.
Mamãe chegou à porta.
— Pois não?
— Boa tarde, senhora, é que eu cheguei de mudança nesta cidade há um mês e, como não conheço ninguém ainda, resolvi bater de porta em porta, à procura de trabalho.

Mamãe sorriu e foi agradável, como nunca vi antes em minha vida. Mostrou ser amigável e, num gesto gentil, pediu que entrasse.

— Por favor!
— Com licença.
— Como é mesmo o seu nome?
— Paula... Ana Paula.
— O meu é Carmem.
— Bom, como dizia, faço todos os serviços de uma casa...
— Quantos anos você tem, minha jovem?
— Quatorze.
— Não acha jovem pra assumir tamanha responsabilidade?
— Estou ciente disso, senhora, mas é que de onde eu venho, a responsabilidade é adquirida desde cedo. Se a senhora estiver precisando de alguém, certamente, farei o melhor.

Fiquei observando a conversa, sentado no sofá, que ficava de frente para elas. A casa estava uma bagunça, mamãe não tinha arrumado nada, era assim, toda vez que a gente se mudava. Mamãe deixava para arrumar as coisas bem devagar, como estava sem empregada nesta época, ela então se acomodou.

— Até que estou precisando sim, também cheguei de mudança há uma semana e como pode ver, está tudo embalado ainda.
— Bom, eu posso sugerir o seguinte: sei que pela minha idade, a senhora pode dizer que não, mas faça um teste, prometo não decepcioná-la. Estou mesmo precisando trabalhar, meu pai ainda não conseguiu nada por aqui, minha mãe pegou umas roupas pra lavar e é o que tem nos ajudado.

Mamãe olhava em seus olhos, não deixava transparecer, mas estava sensibilizada com aquela situação e, no fundo, tinha gostado dela.

— Tudo bem. E quando é que você pode começar?
— Amanhã mesmo, só peço para sair às cinco, estudo à noite.
— Por mim está ótimo!

E foi assim, que mamãe a conheceu. Quando fizemos a segunda mudança de cidade, foi muito difícil para a Paula, que teria de escolher entre ficar com os pais ou seguir a minha mãe. Então, houve um acordo entre os pais dela e os meus. Mamãe cedeu em algumas coisas, pois queria a Paula do seu lado. Toda assistência seria dada à Paula, enquanto estivesse com mamãe.

Depois de horas rodando na estrada, sugeri à Juliana que parássemos para fazer um lanche. Rodamos por meia hora e estacionamos em um posto de gasolina, para abastecer o carro. Era um desses terminais à beira da rodovia, onde os ônibus fazem suas paradas. Assim que saímos do carro, olhei à minha volta e respirei bem fundo aquele ar fresco do local, tão fresco, que minhas narinas ardiam. Entramos em um restaurante onde havia duas seções de mercadorias, uma de lembranças do local e outra de coisas da parte de alimentação. Enquanto eu procurava alguma coisa para comer, Juliana foi até à seção de lembranças e saiu pegando o que lhe agradava. Diante daquela situação, tive que dar uma chamada nela, afinal, não estava fazendo turismo e eu conheço bem Juliana. Cochichando em seu ouvido.

— Não acha melhor levar tudo isso na volta?
— Ué! Por quê?
— Carregar peso para lá e para cá, por quê? Hum?
— Está bem, amor! Foi só força do hábito.
— Como se eu não te conhecesse. — risos.


Compramos misto-quente e refrigerante, e caminhamos até ao carro. Depois de nos acomodarmos, ficamos ali, saboreando o lanche e olhando os carros que passavam na rodovia. Carros iam, carros vinham, Juliana propôs uma brincadeira.

— Amor, o primeiro carro que passar é seu, o outro é meu, o outro seu e, assim, sucessivamente. Quando terminarmos de comer nosso lanche, vamos ver quem ganha?
— Você já brincou assim, quando era criança?
— Não! Eu hein! Apenas deu na cabeça falar isso, por quê?
— É que eu, o Lorinho e Paula, brincamos assim, certa vez. Foi muito legal, coisa de moleque mesmo.
— Ah, então me conta que eu quero saber.
— Mas, e a nossa brincadeira?
— Deixa pra lá, estou mais interessada na sua história.
— Está bem, mas não me interrompa. — Juliana confirmou com a cabeça. — Era minha segunda temporada de férias. Patrocínio, final de 1980. Foi demais... papai e mamãe decidiram viajar sozinhos, era uma viagem de negócios e eu não estava incluído na programação. Ficariam fora uns oito dias, não lamentei nem um pouco. Se fosse noutras épocas até questionaria, mas naquele momento... eles iam tratar de coisas que eram de seus interesses e aquele era um momento raro de liberdade. Por uns dias, ia-me sentir livre para fazer o que bem entendesse. A Paula me compreendia e me apoiava, ela aprendeu a lidar com minha mãe que tinha um temperamento terrível. Como Paula já estava com dezesseis anos e tinha uma responsabilidade enorme. Disse a minha mãe que não havia necessidade de chamar minha tia Inácia, outra figura insuportável. Paula sentou com minha mãe, as duas conversaram bastante, enfim mamãe resolveu dar um crédito de confiança à Paula, ela ficou responsável pela casa e por mim... imagina! No fundo, no fundo, Paula também queria um tempo para respirar, assim como eu, afinal eram as férias de dezembro e, é claro que, não iria ficar dentro de casa. Paula não tinha namorado, ela se amarrava em ficar lendo revistas de fotonovela ou escrevendo poemas, cada um mais bonito que o outro. Depois que meus pais viajaram, mamãe deixou as chaves do carro com Paula. Ela era menor de idade e não tinha carteira de motorista, mas dirigia como gente grande! Foi mamãe quem a ensinou a dirigir, só para que pudesse ir ao supermercado fazer compras. Como a cidade era pequena, todos a conheciam, com isso, não a incomodavam, pois sabiam que era uma menina muito responsável. Mas a grande verdade é que, quem olhava para Paula, achava que ela tinha mais idade por ser um mulherão, talvez, por isso, nunca a importunaram. Tomei um banho; em seguida, Paula fez o mesmo, depois de prontos, nós fomos dar uma volta de carro pela cidade. Paula era como uma irmã para mim, tanto que ali na cidade era a filha mais velha de minha mãe. Pedi que me levasse até a casa de Lorinho, mas ela ficou um pouco receosa, relutante. Paula ainda não conhecia Lorinho, afinal ele nunca tinha ido à minha casa. Oito meses se passaram depois que cheguei naquela cidade e ele foi o único que, de fato, se tornou meu amigo.

— Paula! Vamos até a casa do Lorinho?
— Que isso Guilber, ficaste maluco?
— Por quê?
— Poxa! Tua mãe pediu para não te deixar ir à parte alguma! Caramba Guilber, tua mãe confiou em mim!
— Ah! Vamos, vai ser legal, tenho certeza de que vai gostar! Essa é a oportunidade da gente se divertir pra caramba! Só ficamos enfurnados dentro de casa, não é justo. Vamos aproveitar enquanto estão fora.
— Deixa pensar, está bem? Nesse ponto até que tens razão.
— Ufa! Já é um começo! — fomos para casa depois de andar bastante pela cidade. Paula caminhou até a cozinha e fez pipoca, eu liguei a TV, nos sentamos no sofá e voltei a tocar no assunto. — Paula, quando é que a mamãe vai voltar?
— Não sei, ela disse que ficaria uns oito dias fora, mas quem garante?
— Então, vou à casa do Lorinho, fico por lá uns três dias, eles não vão nem saber, nem perceber...
— E se chegam antes? E se alguma coisa der errado? Sei lá, tudo pode acontecer, vai que sua mãe esteja nos testando!
— Credo! Aí, diria que você é muito pessimista e azarenta.
— Lá deve ser bem legal para insistires tanto!
— Claro! Tudo é diferente, foge totalmente dessa rotina que a gente vive aqui.
Paula suspirou.
— Ok. Vou com você, mas voltamos no mesmo dia! Não quero arriscar. Infelizmente, a fala de sua mãe não pode ser levada ao pé da letra. Você sabe melhor do que eu.
— Verdade. Você tá certa.

E assim foi. No dia seguinte, bem cedo, preparamos uns sanduíches. Paula tinha feito uns docinhos e um bolo, levamos também uns refrigerantes. Usamos o carro de minha mãe, eu ia conduzindo Paula, mostrando-lhe o caminho. Dez minutos depois, chegávamos à casa de Lorinho, quero dizer, próximo. Paula se assustou, pois, o local era de pobreza, um bairro afastado da cidade, bem pobrezinho. A impressão que tínhamos, era de que aquelas pessoas estavam ali por serem excluídas da sociedade. Não existia uma rua asfaltada. Crianças brincavam de correr umas atrás das outras, algumas brincavam de rolar pneus de carro rua abaixo, a terra era vermelha, as crianças



estavam bem sujas, com roupas bem surradas. Eu me perguntava, por que ninguém fazia nada para ajudar aquelas pessoas que ali moravam.




O nosso carro ficou a uns trinta metros de distância da casa de Lorinho, não dava mais para seguir com ele. Paula, ainda sentada ao volante, olhava tudo aquilo e, de certa forma, estava chocada com aquela





Algumas crianças ficavam olhando a gente de longe, uma com nariz escorrendo, outra segurava com uma das mãos sua bermudinha que, pelo jeito, teimava em cair, outra coçava a cabeça, num gesto de que estava com bastante piolho. Paula tentava não se envolver com as cenas, queria saber onde morava Lorinho.

— Afinal, onde mora esse seu amigo?
— Depois daquele córrego ali, adiante.
— Eu pensei que fosse numa dessas casas.
— Não! É um pouco mais abaixo.
Saímos do carro.
— Tudo bem. Vamos nessa então? Ajuda-me aqui, com estas coisas. Cuidado! Meu Deus, Guilber, vais deixar o doce cair! Como tu és desajeitado! — Paula deu longa olhada a sua volta e respirou profundamente. — Bom, enfim, vamos conhecer esse seu amigo do qual tanto fala.
— Você vai gostar dele.


A casa de Lorinho era, na verdade, um sítio pequeno que ficava situado na encosta da cidade, assim como aquele bairro. Logo na entrada da casa havia um córrego, que dividia o bairro do sítio. Para chegarmos lá, só mesmo atravessando uma pinguelinha de madeira. Eram duas toras de eucaliptos caídos, de uma ponta à outra, com umas tábuas pregadas na transversal e uma corda esticada, de uma ponta à outra, para que quem atravessasse pudesse ter apoio. Paula teve dificuldades para atravessar.



— Aí, meu Deus! Vou cair!
— Vai devagar, que você consegue.
— Não empurra!
— Mas eu nem te encostei!


Com cuidado ela passou. Ficamos parados ali, por uns instantes. Paula admirava, com prazer, cada espaço daquele local. À sua frente tinha uma carroça ou um carro de boi que, pelo estado, não andava há muito tempo; debaixo dele, havia um cachorro, Soneca, era seu nome, tinha esse nome, pelo fato de estar sempre dormindo e ter preguiça até de latir. Várias galinhas no quintal, patos e, ao fundo da casa, um curral, onde havia cabritos, cavalos e três vacas.

— Sabe que lá, no Sul, onde morei, era assim mesmo? — Indagou Paula, que olhava cada detalhe à sua volta.




A casa era velha, precisava de reparos aqui e ali, era uma construção bem antiga. No telhado, em algumas partes, havia até falta de telhas. A porta da sala, ressecada pelo sol e chuva, estava com uns rachados e tinha cor acinzentada. Gritei pelo Lorinho e a resposta veio de longe, do outro lado da casa.

— LORINHOOO!
— Quem é?
— Sou eu, Guilber.
— Aqui, nas mangueiras. — Ao darmos a volta por trás da casa, nós o vimos. Estava deitado em uma rede, amarrada entre um pé de manga e outro.
— Ôaa! Isso é que é vida.
— Que nada, Guilber! Tou descansando um pouco, férias aqui meu amigo, só da escola mesmo, pode acreditar.
— A gente veio dar um passeio em sua casa, espero que não tenha problema.
— Não, nenhum! Cê sabe que pode vir quantas vezes quiser, eu só acho estranho que esteja aqui. O que houve com sua mãe? Mudou de ideia? — Lorinho não tirava os olhos da Paula, estava ali, um cara de poucas palavras, mas o que eu mais admirava nele era a determinação. Quando vi aqueles olhos irem de encontro aos olhos verdes de Paula, logo pensei: “Esse cara já era, vai se apaixonar pela Paula.” — Eu não conheço ocê? — Perguntou ele à Paula, mas antes que ela abrisse a boca para responder, eu me antecipei.
— Ela é minha irmã.
Lorinho, intrigado, respondeu-me com desconfiança.
— Uai, cê nunca me falou que tinha uma irmã!
Tentei sair ileso do rolo que criei.
— Cê nunca me perguntou! — Paula dava boas risadas de toda aquela situação que inventei.
— Qual é mesmo seu nome? — quis saber Lorinho, com certa curiosidade. Simpática, Paula respondeu com um belo sorriso.
— Paula... Ana Paula. E o seu?
— Bem, todos me chamam de Lorinho.
— Lorinho... interessante, diferente!
— Bom, se ocês vieram aqui dar um passeio, fiquem à vontade, só não reparem na bagunça. Meus pais trabalham fora e só voltam nos finais de semana. Eu faço o que posso, mas tem dia que me dá uma preguiça, então vou enrolando pra ver se o tempo passa mais rápido.

Lorinho levantou da rede e nos convidou para entrar. Sua casa era muito simples, composta de dois quartos, um banheiro, uma sala... a cozinha ficava de fora, num cômodo separado, mas unido por uma cobertura de telhas e um corredor de piso avermelhado, que não tinha paredes, mas duas escadas com quatro degraus cada. Para quem saia da cozinha em direção ao quintal, poderia sair, tanto para a direita, quanto para a esquerda. Havia um fogão a lenha, ao seu lado, num canto, havia um fecho de lenha, que seria usado quando necessário,uma mesa no centro do cômodo, não existiam cadeiras e sim, um banco corrido de ponta a ponta, uma geladeira de cor azul, um pouco velha e enferrujada em determinados lugares. As paredes pretas pela fumaça do fogão, escondiam a cor original da cozinha. Ao lado da geladeira, pendurada na parede, estava uma folhinha com os meses do ano, na mesa, uma bandeja e alguns copos.

— Lorinho... a gente trouxe umas coisas que precisam ser colocadas na geladeira, será que eu posso? Se você não importar, é claro.
— Que isso, imagina Paula! Fique à vontade! — Paula, que havia aberto a geladeira, tomou um susto. Só tinha água. Não pude deixar de fazer uma gozação com meu amigo.
— Paula, não repara. Essa geladeira, dificilmente, recebe outra coisa que não seja água. É muito simples. Não existem os vegetarianos? O Lorinho aqui, é águariano. — nunca dei tanta risada como nesse dia. Lorinho ficou hiper sem graça, Paula não gostou, nem um pouco, da brincadeira. — Desculpa gente, é que ele e os irmãos almoçam e jantam na casa da tia, que mora aqui perto. — tentei justificar.
— Guilber, tu é tão sem graça! — disse Paula, sem jeito. Lorinho mudou de assunto.
— Legal cês terem vindo... quando foi a última vez que veio aqui Guilber?
— Feriado de setembro.
— Quer dizer que tu andaste vindo aqui? Bem que eu desconfiava, sabia que estava indo para algum lugar.
— Não, não. Aqui vim só uma vez mesmo.
— Ela sabe do cavalo?
— Credo! Lorinho já vai me dedurar?
— Dedurar o quê? Eu quero saber!
— Levou um tombaço do cavalo. O sabichão disse que sabia montar... — e riu.
— Bem feito pra ele! É metido a querer saber das coisas, dá nisso! — Paula, depois de colocar tudo na geladeira, sentou-se no banco, de frente para o Lorinho. — Sabe de uma coisa? Gostei muito da sua casa... tudo aqui me faz lembrar uma casa que meus pais tiveram lá no Sul. Era bem assim com tudo simples, mas com originalidade.

Paula deixou um furo tremendo ao dizer isso, depois tentou corrigir o erro, mas já era tarde, Lorinho percebeu que ela não era minha irmã. Discreto, tentou puxar assunto pra ver o que mais ela iria falar. Aquele, de bobo, não tinha nada.

— E de onde cê veio?
Paula me olhou, esperando que eu falasse algo, mas apenas fiz um gesto do tipo: agora fala a verdade! Foi o que ela fez e rindo, respondeu.
— Não somos irmãos, se é o que quer saber. Apenas trabalho na casa dos pais dele.
— Nem vem Paula, sempre tive você como irmã!
— Cai na real, Guilber, onde cê teria uma irmã tão bonita assim? — risos. — Na verdade, quando disse que era sua irmã, achei estranho, pois ela é loira, tem os olhos verdes e é bem clara, típico de pessoas do Sul. Ocê é moreno, cabelos pretos, olhos castanhos. Credo, sabe que eu quase acreditei?
— Ela sabe, que com tudo isso, vai ser sempre minha irmã.
— Tu é que vais ser sempre meu irmãozinho.
— Ainda bem que eu não sou seu irmão.
— Por que dizeis isso, Lorinho?
— Brincadeirinha.


Sempre que Paula olhava para os lados, Lorinho olhava para mim e fazia gestos com a boca, dizendo que Paula era muito bonita. Eu não me segurava e sempre soltava uns risos.

— Que foi Guilber, posso saber por que estás rindo?
— Nada, Paula... nada!
— Então, caso cês queiram dar uma volta de cavalo, é só falar que eu preparo os...
— Eu quero. — respondi sem pestanejar.
— E ocê, Paula, sabe andar de cavalo?
— Tem um tempão que eu não ando a cavalo, mas acho que ainda me recordo de como, espero!
— Quer ir?
— Por que, não?!

Depois de selar os cavalos seguimos em direção a um cerrado, que ficava atrás da casa do Lorinho, os cavalos andavam um atrás do outro, por uma trilha que fazia uma curva bem depois de uma mata de reserva. Continuamos nosso trajeto, cavalgando bem devagar e olhando a paisagem que o local oferecia. Por precaução, fui atrás dos demais, sabe-se lá!Nos distanciamos bastante do sitio. Um pouco mais adiante, havia a rodovia e, depois dela, uma estrada de ferro que, seguindo a nossa esquerda, levaria a um cruzamento com uma estrada menor, que cortava tanto a rodovia, quanto a estrada de ferro. Atravessamos para o outro lado e paramos embaixo de uma árvore, que ficava entre rodovia e a estrada de ferro. Do seu lado direito havia dois montes de cupins, com, mais ou menos, um metro e meio de altura.

— Vamos dar uma paradinha por aqui? — perguntou Lorinho parando perto do monte de cupim. — Por mim tudo bem, minha bunda já dói! Alguém se Lembrou de trazer água? — Água tem, só não está gelada. — brincou Lorinho. — Engraçadinho.

Sentei em cima de um dos montes de cupins, assim que desci do cavalo, Paula preferiu subir na árvore e Lorinho subiu no outro monte. Ficamos ali, observando os carros que passavam na estrada e quem teve a ideia de brincar assim, foi Paula.

— Pessoal, vou fazer uma brincadeira com vocês, prestem atenção! O primeiro carro que passar é do Lorinho, o segundo é seu, e o terceiro, obviamente, é meu. Aquele que valer mais, da rodada dos três, ganha. Vale tudo que passar; carro, trem, bicicleta, formiga, — rindo — brincadeira, formiga não, mas qualquer coisa à frente de nossos olhos que for visível é ponto.

Aceitamos a brincadeira. O que passou primeiro foi uma velha carroça, o que acabou causando muitos risos entre a gente e tudo virou uma festa.

— É Lorinho, aí vem o seu primeiro carro. — provoquei.
— Tomara que passe um carro e ela fique procê.
— Pra mim não, pra Paula.
— Qual é gente, foi eu quem deu a ideia da brincadeira!

Mas não teve jeito, a carroça foi mesmo para o Lorinho. Minutos depois, veio o meu, um fusquinha velho e amarelo.

— Olha lá, Guilber, é uma joaninha. — gritava Lorinho.
— Estou na frente... ponto pra mim.
— Ô! Por que a pressa Guilber? O meu ainda não passou! Vai que eu ganho. — reclamava Paula. E ela tinha toda razão, na sua vez veio uma carreta, o que a deixou eufórica. —URRRUU! Ponto pra mim!
— Pura sorte!
— Qual é Guilber? Com sorte ou não, o ponto é dela.
— Puxa-saco.

Notei que Paula percebeu Lorinho a olhando, com certo olhar de babação e ela pareceu ter gostado disso.

— Valeu pelo apoio, Lorinho.
— Bom, o próximo é meu.
— Pois então, tu te preparas, Lorinho, pois lá vem o seu um caminhão velho, carregado de areia.
— Peraí, gente! Podemos contar ponto com o que ele carrega? Afinal de contas, tá cheio de areia!
— Ridículo isso! — reclamei.
— Pode. — afirmou Paula só pra me contrariar.
— Como assim, pode? Por que pode? Eu acho que não pode não, pelo menos, deveria ter votação pra decidir! — protestei indignado. — Porque fui eu quem inventou a brincadeira.
Debochei.
— Ah! Ah! Ah! Para com isso, Paula! Essa brincadeira deve existir em qualquer canto desse mundão, pode ter certeza disso!
De tanto eu falar, os dois, Paula e Lorinho, olharam um para o outro e disseram a mim.
— “Guilber, cala essa boca!”
— Então estou na frente.
— Fazer o que né, Lorinho! Sou voto vencido.

Do nada, Paula começou a rir. Eu e Lorinho ficamos sem entender nada. Mas como ela estava em cima da árvore e podia ver melhor tudo à sua volta, novamente começou a rir, aquilo foi mexendo comigo.

Perguntei furioso.
— Qual é a graça agora, Paula?
Paula narrou.
— Senhora da Badia! Lá vem o seu, pela reta final. Senhoras e senhores! Vai passar, vai passar e... e... e... esse é o seu, Guilbeeeeeer! — era um cara montado num cavalo.
Retruquei.
— Peraí! Alto lá! A linha pra saber de quem é o ponto é ali ó, foi Paula quem determinou, portanto, ele ainda não cruzou a linha. Não é meu! Não é meu!
— Ih! Olha lá! Ele parou! — disse Lorinho, preocupado.
Reclamei novamente.
— Não é meu! Não é meu! Não é meu!
— Desceu do cavalo para fazer xixi. — confirmou Lorinho.
— Sorte minha... — fazia eu, gestos de quem rezava — tomara que passe um carro, tomara que passe um carro. — e não é que passou um carro?
— Caramba! Não sabia que tu se amarravas em fuscas.
— Sem graça... pelo menos, não vou ficar com o cavalo. —Ficamos na expectativa de quem seria o cavalo, mas passou uma Brasília e Lorinho acabou levando o ponto. — Disgrama sô! — Reclamei.
— Agora tou com um ponto, a Paula tem um ponto, e o Guilber? — Paula e Lorinho fizeram coro — “ZEROOO!”

Como tudo começava pelo Lorinho, o cavaleiro vinha cruzando a nossa frente. Por um momento, fez-se um silêncio, momento este, que foi quebrado pelo Lorinho.

— Isso é complô d’ocês dois contra minha pessoa! Só pode ser perseguição! Né possíve um trem desse!— olhou pra Paula e ela riu...
— E aí, o que tu achas que vem? — Paula falava comigo.
— Depois dessa, tou encafifado, qualquer coisa, menos fusca, ôa vai ser sem sorte.
— Então, te prepara! Vem vindo um... — apontou Paula com o dedo. — Um Jipe!
— Jipe? Cê besta sô! Não passa um carro bom pra mim, ôa.
— É a vez da Paula. O que será, hein? — perguntou Lorinho, olhando para mim.

Um ônibus cruzou nossa frente, ela vibrava muito e passou a ficar com dois pontos. Ouvimos um apito e, de repente, fomos tomados por uma euforia, um olhava para a cara do outro.

— Tá valendo também? Tá valendo? — perguntei, loucamente.
— Claro que sim! Eu disse que valia tudo. — confirmou Paula. Lorinho pulou e vibrou.



— Eu tou na frente, é a minha vez, é a minha vez! — torcia pra que não passasse nenhum carro naquele momento. — Vai, vai! — e o trem vinha apitando: Fiiiiiuiii, fiiiuiiiiii. Lorinho estava de pé, em cima do monte de cupim. Ele acenou para o maquinista com um pedaço de pano. O senhor que conduzia o trem, respondeu tocando por várias vezes o apito: Fiiiiiiiiuiiiiii. Ele também acenava para nós. Paula desceu, rapidamente, da árvore e também acenou. Lorinho desceu do monte de cupim e, simplesmente, correu, como se estivesse apostando corrida com aquela maquina enorme. Estávamos perto da linha do trem, mas a uma distancia segura, do outro lado da pista. Podíamos sentir o tremor do chão a nossa volta, devido a passada dos vagões. Paula e eu fizemos o mesmo, Lorinho gritava numa explosão só. — Eu ganhei! Eu ganhei! — corremos tanto, mas tanto, a ponto de não percebermos que os cavalos já estavam bem distantes da gente. Só paramos, porque havia uma cerca de arame à nossa frente. O trem foi passando, seguindo seu caminho, sei lá para onde. Continuamos acenando e o maquinista, mesmo depois de um tempo sem nos ver, continuava a apitar. Lembro-me que Paula e eu contamos oitenta e oito vagões, estava tão lento, que era possível alguém subir nele.

— Oitenta e oito vagões!
— Você também contou? — perguntou Paula.
— Certa vez, aqui, já passou um com cento e oito vagões.

Estávamos cansados e resolvemos voltar. Assim que chegamos à árvore, Paula pediu um canivete ao Lorinho e escreveu no tronco dela:

“Estiveram aqui, Lorinho, Guilber e Paula. 03/12 /80.”

— Se algum dia, um de nós voltar aqui, esta é a lembrança que deixo.

Montamos cada um no seu cavalo e seguimos de volta para a casa do Lorinho. Sabe, a gente não fazia coisas excepcionais, mas eu gostava de estar ali, era um lugar onde não existiam regras, era livre para fazer o que quisesse, diferente do estilo de vida que meus pais impunham. Ali, eu podia fazer o que quisesse, eu era livre... sinto saudade! Ao chegarmos ao curral, Lorinho foi tirar as celas dos cavalos, eu quis ajudar, mas ele não deixou.



— Deixa te ajudar com isso.
— Pode deixar, num esquenta não.
— Vou preparar um lanche pra gente, enquanto fazes isso, tá bom? Com certeza estará com fome quando terminar.
— Eu vou te ajudar então, Paula! — Enquanto isso, Lorinho continuava a tirar as selas dos animais e as guardava em uma casinha que ficava dentro do próprio curral; eu ajudava Paula com os sanduíches e a perturbava com minhas conversas. — Acho que ele gostou de você...
Falando baixo.
— Guilber! Tu sabes que eu não gosto desse tipo de brincadeira! Como tu és chato.
— Viu como ele olha pra você? Olhar de quem gostou do que viu. Ele é um cara muito maneiro.
— É. Ele é muito legal, isso tenho que admitir, mas não vamos falar disso tá bom?! E mude de assunto, que ele vem vindo aí, nada de gracinhas, se comporta garoto viu ou meto a mão no pé da sua orelha? — e riu.
— Credo! Posso nem brincar mais!

Lorinho chegou até a cozinha. Usava um chapéu já surrado, que tinha sido de seu avô, ao sentar-se à mesa, ele o tirou e colocou do seu lado direito, passou a mão no cabelo, ajeitando-o para o lado. Paula perguntou pelos irmãos e pelos pais... sabe como é, tentando puxar assunto. Lorinho não era muito de ficar falando, tinha um jeitão meio sério, meio bicho do mato, reservado com suas coisas, reservado até demais.

— Quantos irmãos tu tens?
— Tenho mais dois, Vanessa, com oito e Jean, com seis.
— Tu disseste que eles moram com sua tia... Por quê?
— É aqui perto, depois do córrego, meus pais só voltam nos finais de semana, então, minha tia é quem cuida deles.
— É, eu sei como é isso. O que seus pais fazem Lorinho? Quero dizer, trabalham aqui mesmo, na cidade? — Lorinho não respondeu; ficou pensativo por um tempo. Houve certo silêncio, tratei logo de quebrá-lo explicando para a Paula.
— Desculpa Paula, é que o meu amigo aqui, não gosta muito de falar da vida pessoal...
— Desculpa!
— Tudo bem!
— Vamos deixar esse papo mole de lado e comer, estou com uma fome danada! — desviei o rumo da conversa.
— Claro Guilber. Vou pegar refrigerante.

Lorinho tinha uma cisma com sua situação social, era um garoto massacrado pela sociedade na qual vivia. Enfrentava uma barra tremenda no colégio onde estudava, pelo fato de ser pobre. Então, falar de sua vida pessoal era muito complicado. Paula virou para abrir a geladeira, enfim, pegar um refrigerante. Lorinho a olhava fixamente, parecia hipnotizado pela beleza que estava à sua frente. Ele, realmente, se encantou por Paula, ela era mesmo muito bonita. Depois de encher os copos, Paula sentou-se à mesa. Enquanto comia seu lanche; olhava para os lados, seus pensamentos pareciam distantes da nossa realidade, ali, naquele momento. Ela observava cada detalhe ao seu redor, eu, mais uma vez, confesso, tentava adivinhar o que se passava naquela cabecinha. Bastava alguém ficar pensativo e lá vinha eu, com minha obsessão de querer adivinhar o que se passava na mente das pessoas, eu e minhas manias.

— Lorinho, tu achas que sua mãe iria gostar de mim? — ele assustou com tal pergunta, mas respondeu com toda convicção.
— Claro que sim! Por quê? Cê acha que ela não iria gostar? Pois saiba que minha mãe é muito legal, ela gosta de uma pessoa só de olhar. Garanto, ela vai amar! Mas por que pergunta?
— Nada! Perguntei por perguntar, bateu curiosidade, só isso.
Mudei o rumo da prosa.
— Ainda limpa aquele pedaço do córrego?
— Ah! Guilber, — ajeitou, novamente, o cabelo — eu parei, sozinho dá um desânimo, mas pretendo retomar qualquer dia desses. Tou esperando a coragem chegar.
— Ôa. O pior, é que é verdade!

Assim que terminamos o lanche, Paula, sem modéstia, pediu que Lorinho, mostrasse sua casa, ele ficou um pouco constrangido com tal pedido, mas olhando para aqueles olhos verdes, não soube dizer não.

— Lorinho, depois tu me mostra sua casa?
— Mostrar a casa?
— É! Ou não pode?
— Não! Não é isso... é que... bom... tá tudo muito bagunçado...
— Prometo que não vou reparar.
— Está bem, a cozinha não preciso mostrar, afinal, cê já conhece. Então vai levantando, porque a casa é muito grande, eu acho que um dia vai ser pouco procê conhecer... quer começar por onde?
— Seu quarto. — Lorinho e eu, demos boas risadas.
— O que foi?
— Paula, você pegou pesado né! Por que quer conhecer justo o quarto dele? Quer saber se ele é bagunceiro? — risos.
— Ah, sei lá! Começamos então, pela sala.
— Vão me desculpar, mas vou ficar sentado aqui mesmo, comendo o que restou, já conheço a casa e não se pode desperdiçar nada.
— Vai, fica ai então, seu chato comilão, mas eu faço questão de conhecer tudo viu, Lorinho!
— Senhorita, tenha a bondade de me acompanhar? — Lorinho levantou e estendeu sua mão, para que Paula pudesse segurar. — Obrigada, cavalheiro.

Seguiram então, pelo corredor da casa.

— Aqui é o quarto de meus pais, um pouco grande pra pouca mobília, não acha? — Paula continuava em silêncio, só observando tudo à sua volta. — Ali é o meu quarto e dos meus irmãos também, mas eles não dormem aqui, nem quando meus pais estão em casa.
— Bá, Por quê?
— Sei lá, minha tia é uma que já se acostumou com meus irmãos, ela é muito sozinha e, de certa forma, lá existe um conforto maior para eles e já se acostumaram com toda essa situação. Eu durmo ali...

Paula olhou pra cama, não resistiu, caminhou até ela, sentou e ficou balançando-a, logo se ouviu um barulho, que rangia embaixo da cama. Empolgada balançava mais e mais numa frenética diversão.

— Que legal! É de molas!



— É. É meio antiga, mas eu gosto... será que ainda fazem coisas desse tipo?
— Não sei, mas saiba que eu tive uma dessas, quando morei no Sul e digo que é muito boa pra dormir.
— Não tem mais?
Parando de balançar. — Papai teve que vender, quando viemos pra cá.
— Que lugar do Sul vocês...
— Treze Tílias... era uma cidade bem pequena quando sai, deve ter crescido alguma coisa agora. — Paula, quando falava de sua terra natal, ficava pensativa, aérea.
— Cê fala com tanta emoção de sua terra natal, deve ter sido difícil abrir mão de um lugar assim, né?
— É... no início não foi fácil, mas deixemos isso de lado.
— Certo. Ali são as camas de meus irmãos, também são de molas, este aqui é meu rádio. — era um desses rádios antigos, foi deixado pelo avô, datava de mil novecentos e trinta e nove.



— É bem antigo, hein?
— É. Pertenceu ao meu avô, mas funciona viu! Aquele é meu guarda-roupa, é onde coloco minhas coisas, mas, por favor, não abra! Está uma bagunça!
— Não te preocupes, não vou abrir!
Eles saíram do quarto e caminharam até a sala.
— Aqui é a sala, como pode ver, com os sofás, a mesinha de centro, a estante com alguns livros e a TV que, por sinal também é antiga, mas funciona, viu?
— E esse quadro na parede?
— Ganhei de um amigo.
— Nossa, que lindo! — Nesse item, ele havia mentido, o quadro era dele, ele havia pintado. Da cozinha, quando ouvi, pensei em desmentir, porém deixei de lado. Lorinho não era de expor aos outros suas aptidões, o cara era bicho do mato total.
— Puxa! — Paula estava admirada. — Quem fez devia estar numa inspiração e tanto!
— Cê acha?
Paula afirmou e respirando fundo disse:
— Achei sua casa muito legal, Lorinho!
— É simples.
— Eu sei! É por isso que gosto, de verdade! Minha casa no Sul era assim também, simples, mas aconchegante, olhou para ele — e confesso tem minha cara. Sabes que até parece que estou na minha casa?
— Nossa! Uai, então fico feliz que tenha gostado de minha simplicidade, é a primeira vez que alguém vem aqui e se sente assim. Normalmente é o contrário. — breve silêncio — Gostaria que me contasse alguma coisa sobre ocê, afinal, já sabe um pouco de mim e seria muito interessante te ouvir.
— Outro dia, quem sabe?
— Humm! Quer dizer que cê vai voltar aqui mais vezes? — Paula balançou a cabeça em gesto de afirmação. — Vou cobrar, hein?
— Pode cobrar, é sério, gostei de tudo aqui!

Um olhava pro outro e um sorriso meio tímido surgiu de ambos os lados. Eles voltaram para a cozinha, Paula tratou logo de limpar a sujeira e a bagunça que eu havia feito. Enquanto ela lavava os copos, pedi ao Lorinho que me mostrasse o córrego.

— E aí, vai me mostrar o lugar onde está limpando, lá no córrego? Fala tanto disso, que desperta curiosidade.
— Por que não?
— Então vamos? A curiosidade às vezes me mata, viu. — Ao chegarmos no local, pude ver que Lorinho estava bem adiantado em seu objetivo. — Não tem cobras aqui?
— Por aqui eu nunca vi.
— Mais um pouco e dá pra nadar.
— Mas objetivo maior não é esse... essa é a parte mais funda, pretendo fazer uma barragem de concreto bem ali, claro que com a ajuda do meu pai. Com certeza, esse poço vai ficar bem mais fundo. E aí, meu amigo!
— Peraí, peraí! Deixa ver se eu entendi. É, não entendi! Se não é pra nadar, então é pra quê?
— Pretendo criar carpas.
— Carpas?
— É! É um tipo de peixe, criado em cativeiro ou viveiro de água, tenho planos de capinar tudo isso, nessas férias. — correu o dedo em volta de todo o sítio, realmente, o mato estava bem alto.
— Em volta da casa também?
— Tudo a sua volta. Quero mudar o cenário de tudo isso aqui.
— Pegou um filete de capim e colocou na boca. — Minha mãe diz que não é vergonha ser pobre, mas porco sim, então...
— Você cisma com esse negócio de ser pobre!
— É, porque não passa o que eu passo, cê pôde ver na escola como eles me tratam.
— Pois fique sabendo, que se eu pudesse, estaria aqui, todos os dias e mais, ate trocaria de lugar com você. Não quero nem saber qual é a sua classe social... minha mãe é que tem essas paranoias... fico imaginando se soubesse da vinda de Paula aqui.
— O que, não seria legal, procê, nem pra ela.
— Com certeza ela voltaria pra casa dos pais... — com um olhar sacana. — Não seria legal nem pra você, sabia?
— Opa! O que quer dizer com isso?!
— Cá entre nós, é uma gata! Ficou babando por ela, pensa que não vi?
Lorinho mudou o rumo da conversa.
— Venha. Vou mostrar onde nasce o córrego.
— Como sempre, tem uma saída estratégica, só pra não se aprofundar na prosa. Mas sabe que falo a verdade, não é?
— Cê sabe ser chato quando quer ôa! — ele subiu em direção ao cerrado. — É logo ali em cima.
Eu insistia.
— Você pode negar, mas vejo em seus olhos.


Assim que chegamos ao local, fiquei tão cansado, que não falei mais nada. Não estava acostumado a subir em lugares altos, o fôlego logo faltava. Lorinho sentou e ficou a olhar para o horizonte.

— Cê acha que ela ia se interessar por um caipira pobre como eu? É muita areia pro meu caminhão!
— Dá duas viagens?! — Lorinho dava boas gargalhadas.
— Qual é a graça?
— Dá duas viagens, essa é boa! Cês de fora tem uma linguagem estranha. — não queria mais papo, então fui ver onde o córrego nascia.
— Lorinho, vai me dizer que esse filete de água, é que faz aquele tufo no córrego, lá embaixo? Fala sério!
— Pode acreditar que é verdade.
— Rapaz! Não é que daqui, dá pra ver um pedaço da cidade?
— É. Eu sei. — ficamos ali por um longo tempo, até que Lorinho viu Paula saindo da casa. Ele ficou de longe a observar, até que me chamou. — Ô Guilber, o que é que a Paula tá fazendo?

Vi os movimentos de Paula, mas confesso que não dei muita importância, como eu havia visto um pedacinho da cidade, queria saber se subindo em uma árvore eu conseguiria ver melhor.

— Sei lá! Lorinho, e se a gente subir numa dessas árvores, será que dá pra ver a cidade melhor?
— Claro que dá, mas já olhou à sua volta? Percebeu que tem lobeiras por aqui, né? — Lorinho respondeu, mas não deu à mínima, queria, realmente, saber o que Paula estava fazendo.



— E o que tem isso a ver com eu subir na árvore?
— Meu pai diz que aqui, é lugar de lobos e que não é bom ficar até tarde por essas bandas, onde tem lobeiras, com certeza tem lobos e não demora muito para eles aparecerem.
— Você falou, eu acredito.

Descemos o cerrado, chegamos ao quintal pela parte dos fundos da casa, as galinhas estavam todas ali, cacarejando, como se quisessem alguma coisa.

— Tá vendo? Chega essa hora, não querem nem saber! — Lorinho foi até o curral e lá, ao lado da casinha onde havia guardado as selas dos cavalos, tinha um paiol de milho. Pegou umas espigas de milho e retornou. — Toma. Hoje a tarefa é sua! Dibuia essas espigas e joga pras galinhas.



Aquilo pra mim foi a glória! Era como jogar milho aos pombos. Fiz isso uma vez em Belo Horizonte, numa das poucas vezes que saí com meu pai. As galinhas, os patos, todos ali à minha volta. Lorinho reuniu as cabritas e as fechou em um pasto pequeno, cercado de arame farpado. De repente, os porcos também começaram a chorar de fome, sei lá, pelo menos, foi a impressão que tive. Lorinho buscou meio saco de farelo de arroz e misturou na água, então, colocou nos cochos, dentro do chiqueiro. Eram três porcos, que brigavam entre si, para ganhar espaço e abocanhar a comida. Ao terminar, a torneira e, rapidamente, uma torrente de água caiu sobre ele, era uma espécie de chuveiro ao ar livre. Paula, de vez em quando, dava uma disfarçada e olhava para ele, ela tinha sentido alguma coisa por ele, tenho certeza disso hoje. Sem perceber que estava sendo observado, Lorinho tirou a camisa e, como se a tivesse lavado, torceu e colocou ao lado, em cima de um caixote, depois, entrou debaixo d’água e deixou cair em seu corpo, por um instante mais e fechou o registro. Dali foi até o varal de roupas e colocou sua camisa para secar. Quando virou para caminhar em direção à cozinha, percebeu que Paula estava à porta, ficou meio sem jeito, mas continuou. Seu bermudão estava encharcado, ele até que tentou passar pela porta, mas foi barrado por Paula. Eu que assistia tudo de longe, acabei murmurando para as galinhas.

— Vai rolar alguma coisa aí, escutem o que estou dizendo, é sério! Eu vejo no ar! Vão, vão, comam o milho, que vocês não entendem nada de coração, só sabem cacarejar.

Paula estava em pé, na porta, com os braços um em cada portal, de forma que não dava para ele passar. Lorinho fixou seus olhos nos olhos de Paula, ficaram assim por um instante, um olhando nos olhos do outro, até que Paula tomou a iniciativa e perguntou ao coitado aonde ele iria.

— Onde pensa que vais, todo molhado assim?
Respondeu com um sorriso.
— Pegar minha toalha, por quê?
— Diz onde ela está que eu pego.
— No banheiro.
— Tu não me mostrastes o banheiro?
Lorinho sorriu sem graça.
— É mesmo! Fica a...
— Já descobri onde fica, não saia daqui, hein?! — foi buscar a toalha, Lorinho virou e fez um gesto para mim, como se não entendesse nada. Eu conversava com as galinhas, sem dar a menor importância ao fato. Paula voltou com a toalha. Eu achava tudo aquilo engraçado, pois já estava adivinhando o que iria acontecer. — É esta, aqui?
— É. Obrigado!

Lorinho secou seu corpo e, em seguida, foi para o banheiro, meio confuso, sem entender o que se passava. Quando chegou lá, percebeu que algo estava diferente, olhou a sua volta e, sem graça, colocou a mão na cabeça.

— Meu Deus! Que vergonha! — Paula deu uma faxina no banheiro, ficou tão limpo, que Lorinho não acreditava. Ao sair com a toalha enrolada na cintura, passou por Paula, às pressas.
— Vou até o quarto, colocar uma bermuda seca, já volto! — ao trocar de bermuda, voltou, bem diferente. Não sabia onde enfiar a cara. — Caramba! Nem sei o que dizer. Estou sem graça.
— Poxa! Tu não gostaste, eu...
— Não! Não é isso! Gostei, mas... é que... eu não esperava.
— Fiz na melhor das intenções...
— Acredito. Obrigado! — trocaram olhares por uns instantes.
— Se eu soubesse que ia se chatear eu...
— Não! Não estou chateado, de verdade...
Entrei e percebi a diferença no ambiente, tudo limpo.
— Não sei por que, mas algo me dizia que cê ia fazer isso! Quem vai gostar disso é a sua mãe, né!
— Fiquei meio sem palavras, mas não estou chateado, tou tentando dizer isso à ela, mas...
— Liga não, Paula. Pelo que conheço, Lorinho não está zangado, está furioso! — e riu.
— Guilber! — repreendeu Lorinho.
— Brincadeira, ele com certeza tá sem graça, acredite, é só isso, mas zangado, jamais!
— Que coisa Guilber! Eu não sei se te bato ou se ponho de castigo. — risos. — É como esse chato disse. Quem vai gostar é minha mãe, vou ter que dizer que isso não foi obra minha.
— Tudo bem. Não me importo. Que bom se ela gostar!
— Obrigado. — Lorinho agradeceu, gentilmente.
— Só fiz isso, porque me senti tão à vontade, é como se fosse minha casa, esse foi o jeito que achei para agradecer, de alguma forma, por eu ter vindo aqui, espero voltar mais vezes...
— Claro, quando cê quiser. Faço questão!
— É. Pra quem que não queria vir. — cutuquei.
— Guilber, cala a boca! Meu Deus, que garoto, terrivelmente, chato! — para Lorinho — Será que eu posso chupar umas mangas? Vi que lá nas grimpas têm umas madurinhas e queria pegá-las. Pelo jeito, devem ser docinhas. Tu deixas?
— Claro! É como eu disse: aqui a casa é sua!
— Então, agora eu vou aproveitar o restante do dia chupando mangas. — risos.
Zombei.
— Posso chupar umas mangas? Tu deixas? — mudei a voz. — Claro, fique à vontade, a casa é sua!
— Tu és um chato, viu Guilber?

Paula saiu correndo, como uma criança, em direção aos pés de manga. Ela trajava uma bermuda branca, que depois da faxina ficou preta. Estava descalça. Foi ligeira e subiu rápido em um dos pés de manda e sumiu entre as folhas, parecia um moleque.

Sentei no degrau da escada, junto com Lorinho, quando ele comentou:
— Ela me deixou sem graça e cheio de vergonha.
— Liga não, ela é assim mesmo, já fez isso com uma tia minha. Gosta de agradar as pessoas e essa é a maneira que ela encontra. Não está com raiva dela por causa disso, tá?
— Como posso ficar com raiva de uma pessoa tão bela como ela? Paula é muito simpática, não tem como ficar com raiva...
— Ah! Confessou, hein?!
— Confessou o quê? Não posso mais elogiar as pessoas? Cê, quando quer, sabe ser chato viu ôaa! Vão ficar aqui hoje?
— Não. Viemos escondidos da mamãe. Ela viajou, disse que ia ficar uns dias fora, mas é sempre imprevisível, se descobre que viemos em sua casa, coitada da Paula.
— Amanhã, mamãe vai estar aqui, faz uma força de vir com ela, assim ficam se conhecendo, que acha?
— Vou falar com ela. É medrosa demais, tem medo de mamãe voltar antes do combinado, acha que não falou a verdade sobre o dia certo da volta, só pra ver se ela é de confiança, e olha, vindo de minha mãe, não duvido nada. Paula morre de medo dela, mas vou insistir pra que venha. Isso aqui, pra mim, é o sossego e você viu né, ela gostou daqui, isso conta muito.


CONTINUA...



Espero que tenha gostado do primeiro capítulo.

ATÉ BREVE.